#01 volpílogos
os perigos de atravessar um sinal vermelho, a experiência de dividir assento com alguém que está lendo um livro seu, o que achei da flip 2024.
os sinais vemelhos que a gente não vê
bati de carro. colidi com o carro de uma senhora que precisa do carro para trabalhar. segundo ela, atravessei um sinal vermelho. eu mesmo, não vi essa luz vermelha.
eu só queria aproveitar o domingo ensolarado para votar. ganhei uma dívida, uma ansiedade, um trauma, um podcast de pensamentos intrusivos na minha cabeça. que outras luzes não estou obedecendo? por que não estou parando quando preciso?
nunca imaginei que uma batida pudesse revelar diante de mim mesmo minha falta de eixo. um desequilíbrio emocional se expandiu ao longo dos dias. um tormento. os dias se passando e as pessoas me perguntando o que houve comigo. eu espantado por não mais saber como maquiar minha expressão. minha angústia vazando pelo meu olhar sem controle algum. feito lágrimas.
de fato, só acordei melhor depois que, sete dias depois, deitado para dormir, finalmente chorei.
deitado ao meu lado, junior, meu companheiro, pontuou que chorar que me faria bem.
chorei bastante. acordei melhor.
odeio não ter controle sobre mim.
qual é o nome do invisível
acabei de voltar da flip, onde silvana tavano, a autora de ressuscitar mamutes, numa mesa com mariana salomão carrara e carla madeira, num debate sobre o quanto de nós, autores, está presente nas ficções que escrevemos, disse que “o que importa é como a ficção altera a realidade das pessoas”.
acho mesmo muito bonito isso. gosto de como a ficção é um remédio experimental para curar dores que medicina alguma é capaz de atingir.
ontem mesmo ao voltar da flip de ônibus, sentei-me ao lado de uma senhora. ela se ajeitou e retirou da bolsa um livro para acompanhá-la no trajeto de 4 horas para a cidade do rio de janeiro. era um dos que escrevi, nunca vi a chuva. sorri. não me segurei. a senhora vai ler meu livro? ela não conhecia minha aparência, me devolveu um olhar estranho. eu sou o autor do livro, expliquei. ela se assustou. foi simpática. alguém havia recomendado o livro a ela.
o livro todo marcadinho com linguetas coloridas daquelas que marcam as passagens que gostamos.
ao final da primeira parada, ela me disse terminei. o que a senhora achou? eu achei que terminou como tinha de terminar. gostei muito.
muito curioso como as palavras conectam as pessoas. escrevo há mais de 10 anos e nada me preparou para ver alguém carregar minhas palavras em pilhas de papeis encadernados, seguir com elas durante viagem e levá-las embora.
carla madeira disse na flip que a linguagem tem a capacidade de nomear o invisível.
um clube do livro está nascendo
em breve lanço um clube do livro novinho em folha. estou escolhendo entre duas possibilidades. muitas saudades do clube da caixa preta, mas é hora de pensar em um formato diferente.
flip agridoce
achei a flip muito branca. senti falta de mais representatividade indígena, negra, amarela. acho também que as pessoas precisam entender que um mediador ruim estraga a experiência de um bom debate, não importa se a roda for composta pelos autores mais legais do mundo. a mediação dá a liga, o ponto. não sei mediar, mas sei que as mediações na flip deixaram muito a desejar. faltou também uma interação maior com a cultura local. a flipei fez falta. a infraestrutura para editoras pequenas e independentes foi um pouco triste de ver.
apesar disso, toda flip é legal. tempo de rever muitos amigos, observar o mercado, caminhar por paraty, tomar gelatos, vagar pelas ruas dificílimas de trafegar, caçar festinhas à noite, fotografar, beber cerveja geladinha e cachaça gabriela. fui feliz.




é isso. sinto falta de falar num espaço que não seja o instagram. sinto falta de me comunicar com minha pequena comunidade. de 15 em 15 dias voltarei para partilhar palavras, fotos, notas, highligths, qualquer coisa pessoal, em formato de newsletter; se der certo, volto mais.
beijo nas crianças.
Até daqui a 15 dias, Volp!
Amando tudo aqui! Especialmente os textos marcados com um eu tão exuberante!